
O SNASH e a SNA receberam na última quinta, 29 de maio, a visita especial do professor, economista e diplomata Marcos Troyjo. Uma das vozes mais proeminentes e respeitadas da geopolítica mundial. Foi presidente do Banco dos Brics entre 2020 e 2023.Troyjo falou sobre as intervenções na economia global que estão sendo implementadas pelo governo de Donald Trump, tópico de suma relevância, que vem sendo abordado neste Portal.
Na ocasião, Troyjo fez uma visita ao SNASH, conhecendo as startups do Hub e sendo presenteado com a mais nova ediçao da Revista A Lavoura, em parceria com o SNASH.
Uma verdadeira aula magna

Marcos Troyjo, entre o presidente Antonio Alvarenga e o economista Roberto Fendt. Foto: Larissa Machado
Troyjo iniciou sua manifestação evocando a história bíblica de José do Egito, cuja figura, em sua visão, reúne todas as melhores virtudes de um economista competente. Para ele, a geopolítica hoje exerce maior influência sobre as decisões dos gestores públicos do que no passado, personificada pelo presidente americano Donald Trump. O tarifaço do mandatário republicano sacudiu o mercado internacional, bem como sua postura ideológica beligerante.
Apesar das repercussões globais, inclusive para o Brasil, devido à condição de grande exportador, as ideias de Trump buscam aspectos positivos em tese, como desregulamentação, desburocratização, barateamento de serviços essenciais e redução gradual de impostos para grandes empresas. Esse movimento tende a mitigar a dívida pública americana e atrair investimentos, mas a política de substituição de importações e outras medidas que perfazem o chamado tarifaço tendem a prejudicar os esforços de recuperar certos nichos de atividade econômica nos Estados Unidos.
Troyjo lembrou também que outras eras de instabilidade geopolítica foram superadas, dando o exemplo dos anos 1980, quando o crescimento de corporações japonesas assustava o mundo ocidental, em especial os americanos. Na época, a guerra fria chegava ao fim e o governo Reagan repaginava o ideal de nacionalismo e prosperidade. Ele disse:
“De lá para cá, houve a grande crise de 2008 e 2009, mas a renda per capita dos americanos aumentou em relação aos europeus e asiáticos, o que mostra a resiliência da economia local e sua capacidade de resistir transformações, sempre mantendo a liderança.”
O ex-presidente do Banco dos Brics deu exemplo de uma fala recente do empresário Elon Musk, na qual o bilionário alertava que a baixa natalidade mundial iria gerar uma mudança demográfica importante até 2050. Isso afeta as demandas em países-chave de produção de alimentos e bens de consumo, especialmente aqueles poucos em que a população continuará crescendo, tais como Estados Unidos, Indonésia, Paquistão e Índia; O diplomata afirmou ainda:
“O fluxo migratório também é responsável por essa disparidade, e muitos serão os desafios oriundos dessa nova configuração. Até a metade deste século, o acréscimo líquido de dois bilhões de habitantes, considerando os fatores envolvidos, será o mesmo ocorrido em quase dois mil anos”.
Uma abordagem histórica da conjuntura

Convidados assistem a palestra de Marcos Troyjo. Foto: Larissa Machado
O economista Roberto Fendt distribuiu aos presentes artigo de autoria, intitulado “Donald Trump em seu labirinto”, sobre o mesmo tema da palestra então proferida. Ele leu alguns trechos e fez comentários valiosos, relembrando que o presidente americano defendia barreiras tarifárias muito antes de chegar ao cargo, quando era empresário do ramo imobiliário.
Ademais, Fendt traçou um rico panorama histórico das atribulações entre os Estados Unidos e seus parceiros comerciais, permeadas, em sua visão, por tensões geopolíticas e militares, desde a fundação do país. O economista salientou que as principais organizações internacionais dependem do aporte financeiro americano, proporcionalmente maior do que outras nações. O exemplo principal é a OTAN, na qual os Estados Unidos pleiteiam maior participação financeira de seus aliados no custeio de sua própria defesa.
A fala de Fendt foi densa e minuciosa, repleta de referências históricas, estatísticas e citações que esmiuçaram os números do tarifaço e esclareceram as raízes do tenso cenário atual e seu impacto nas cadeias produtivas mundiais, inclusive as do agronegócio.
Diplomata comenta tensão Brasil – EUA
O embaixador Flávio Perri falou sobre a recente tensão diplomática entre o governo Trump e o Ministro do STF Alexandre de Moraes, a quem o Secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou pretender impor sanções. Segundo o embaixador:
“Mesmo que haja algum atrito, minha visão é de que essas não são nossas prioridades; temos que trabalhar o agronegócio, aquilo que está em debate nesta Casa, as tecnologias que nos tornem mais produtivos e eficientes no mercado internacional. Eventuais rusgas ideológicas são passageiras. O Ministro Moraes não será alvo de represálias mais severas, que venham a ferir a soberania brasileira”
Sociedade Nacional de Agricultura
Texto: Marcelo Sá
Fotos e edição de imagens: Larissa Machado