BaseAG ajuda a transformar uma dívida ambiental em dinheiro para investimentos na propriedade

BaseAG, startup que integra o Startup Hub da Sociedade Nacional de Agricultura — SNASH, é uma desenvolvedora de créditos de carbono, que conecta produtores rurais que querem emitir os créditos e indústrias que precisam comprar esses títulos para compensar suas emissões de carbono.

Em 2021, o mercado voluntário de carbono cresceu a um ritmo recorde, atingindo 2 bilhões de dólares – quatro vezes o seu valor em 2020. Até 2030, o mercado deverá atingir até 40 bilhões de dólares, de acordo com Boston Consulting Group.

“Queremos tentar resolver o problema do agronegócio na redução das emissões. Então fazemos a ponte entre o produtor (emissor) e a indústria (compradora) desse título”, explica um dos sócios da empresa, João Felipe, em entrevista à Revista A Lavoura.

Segundo ele, a ideia surgiu a partir de constatarem que o mercado financeiro, bem como as indústrias que precisam adquirir créditos de carbono, não conheciam muito bem sobre como funciona a realidade do campo, e o contrário também.

João Felipe, um dos sócios da BaseAG, em atendimento personalizado ao produtor rural. Foto: Divulgação

 

“Trabalhamos em duas frentes, uma ligada ao agro e outra ligada à indústria”, diz.

João explica que a empresa atua entendo as necessidade do produtor que deseja entrar no mercado de carbono e da indústria que precisa compensar suas emissões. A partir daí, é possível criar um perfil de créditos de carbono que atenda as expectativas de ambas as partes.

Como funciona

De um lado, as empresas, indústrias ou instituições que emitem CO2, e que estão em dívida ambiental, procuram compensar as suas emissões. Então, investem recursos financeiros em projetos rurais que ajudam a remover (sequestrar) CO2 do meio ambiente.

E é assim que a dívida ambiental se transforma em dinheiro.

Do outro lado, os produtores rurais  precisam de investimento para realizar projetos de remoção de CO2, e através da Base AG recebem tais investimentos de empresas, indústrias ou instituições que emitem CO2 para gerar o famoso crédito de carbono.

“O crédito de carbono não limita nenhum tipo de produção. Os produtores rurais nos procuram para que avaliemos se existe viabilidade ou não, se a propriedade é apta ou não para emitir esse crédito”, diz João.

Avaliação de solo para inventário de emissões da propriedade. Foto: Divulgação

A Base AG desenvolve, acompanha e garante a segurança dos projetos de remoção de carbono junto ao produtor durante todo o período de geração de crédito, auxiliando na recuperação de áreas.

Depois, a startup registra e certifica em plataformas independentes para garantir a emissão legal e a não duplicação da certificação do crédito de carbono gerado.

“Dá para ter produção e também preservar. O que fazemos  é trabalhar com a área de produção no campo para criar o título, e também assessorar o comprador, a indústria que quer fazer um plano de compensação, adaptada a forma de pagamento, ao volume de produção de créditos”.

Ao final de cada ano, após o início do processo de recuperação das áreas e captura de CO2 na propriedade rural, é emitido o certificado de crédito de carbono.

É este certificado que garante que a empresa, indústria ou instituição cumpriu a sua obrigação legal de compensar, neutralizar ou eliminar as suas emissões de GEE.

“Esse mercado precisa de credibilidade e os produtores precisam se organizar para entrar nesse mercado bilionário”, pontua o sócio da startup.

 

Perfil dos clientes 

João explica que a empresa trabalha com médios a grandes produtores, com áreas acima de mil hectares. Mas também existem pequenos produtores que fazem parte de cooperativas e associações.

“Normalmente são produtores exportadores que já sentem a demanda dessa obrigação de apresentar relatório de sustentabilidade. Quando esses grandes produtores estão em uma cadeia que é exportadora, a própria agroindústria a quem estão vinculados também recebe essa cobrança de apresentar um relatório”.

Segundo ele, o mesmo se aplica às indústrias, que normalmente também atuam na exportação e já precisam apresentar algum relatório ESG (critérios sociais, ambientais e de governança).

Trabalho de recuperação ambiental para emissão de créditos de carbono também envolve a recuperação de nascentes nas propriedades rurais, como se pode ver no antes e depois acima. Foto: Divulgação

Mercado de carbono no Brasil

Segundo João, o primeiro dever de casa do Brasil é regularizar a situação do produtor rural e, depois, regular o mercado de carbono.

“O primeiro passo é o produtor ter um CAR (Cadastro Ambiental Rural) bem feito, e a maior parte dos produtores estão com a documentação em análise ainda”, avalia.

João acredita que a regulação do mercado de carbono, cujo projeto de lei segue em trâmite no Congresso, pode significar maior participação de agentes no mercado.

“Vai existir maior potencial de projetos para emitirmos um nível de título, com mais velocidade, e mais comparadores. Podemos pensar também nos pequenos, o custo de certificação e das auditorias é muito alto e inviável para pequenos produtores, a não ser que seja iniciativa de um cooperativa. O mercado regulado vai possibilitar que os pequenos produtores entrem”.

Diferenças entre mercado regulado e mercado voluntário de carbono

mercado de carbono regulado surgiu em consequência do Protocolo de Quioto e as urgências em relação às mudanças climáticas. Assim, alguns dos principais países responsáveis pelo aquecimento global se comprometeram em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, criando obrigações legais para empresas dentro de seus territórios que incluem o limite de emissões e a possibilidade de compra de créditos de carbono de mecanismos definidos em Quioto para compensar a emissão além da meta, no período de 2008 a 2012.

O Brasil, como país em desenvolvimento, não assumiu meta em Quioto e, portanto, os projetos baseados no Brasil só participaram como fornecedores de créditos de carbono do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, chamados Reduções Certificadas de Emissões – CERs em inglês.

Já o mercado de carbono voluntário surgiu de forma paralela ao protocolo, com as Reduções Voluntárias de Emissões – VERs em inglês. Nele, qualquer empresa, pessoa, ONG ou governo pode gerar ou comprar créditos de carbono voluntários. Esses créditos, também são auditados por uma entidade independente, mas não estão sujeitos a registros da ONU e por isso não valem como meta de redução para os países que fazem parte do acordo internacional.

Uma das principais diferenças entre os dois mercados é a precificação do crédito de carbono. Atualmente, os preços do mercado de carbono voluntário são mais altos comparados ao regulado.

Fonte: Sustainable Carbon