Startup ajuda na conservação e restauração de florestas em áreas rurais. Na imagem, a Floresta Amazônica vista de cima (Foto: TV Brasil/Agência Brasil)

Com a missão de conservar a biodiversidade, quatro executivos se reuniram em 2021 – três deles ligados à tecnologia e um ao meio ambiente – para fundar a Preservaland. Eram tempos de pandemia, e eles se voltaram para uma questão: “Como usar tecnologia para mitigar os impactos ambientais em escala?”.

“Víamos muitas iniciativas, ONGs que não conseguem gerar escala e com uma ineficiência muito grande”, diz Guilherme Santana, CEO da Preservaland, em entrevista à Revista A Lavoura.

A startup, que integra o Startup Hub da Sociedade Nacional de Agricultura – SNASH, decidiu aplicar a tecnologia para a conservação de florestas.

“Nosso objetivo é conservar a biodiversidade. A floresta é um bioma que suporta essa biodiversidade e como fazemos para conservar a maior extensão de florestas possível”, explica Santana.

Juntando as pontas 

Para isso, criaram um sistema que “junta as pontas”. De um lado, produtores que podem gerar receita com suas áreas preservadas, e do outro, empresas que precisam cumprir seus compromissos ambientais, compensar emissões de carbono, e ter um impacto socioambiental positivo, e passam a financiar a conservação e preservação dessas terras.

“Nós juntamos as pontas. Produtores que já estavam conservando e nós aparecemos como oportunidade mas para dar remuneração a essa conservação. E do outro lado, as empresas que tem objetivo de contribuir com relatórios ESG, e outras que realmente são obrigadas a compensar”, conta Santana.

O primeiro passo é fazer uma avaliação multicriterial de imóveis rurais a partir de bases de dados atualizados diariamente em GIS (Sistemas de Informação Geográfica).

“Fazemos o compliance das áreas, regularização das propriedades, verificando se a propriedade está apta ou não, por meio de imagens de satélite”.

A partir daí, se parte para a criação de um projeto de restauração ou conservação e a mensuração de serviços ambientais,  constituindo reservas baseadas no Código Florestal brasileiro.

Todo o desenvolvimento dos projetos é digitalizado a partir da automação da classificação de áreas e cálculo de impacto (IA). Por isso,é possível o acompanhamento em tempo real dos projetos, com monitoramento, relatórios e verificação digital.

“Quando criamos essas reservas, criamos um código digital com todas operações necessárias para criação da reserva e na nossa plataforma é possível fazer a verificação de tudo o que foi feito”.

Segundo o executivo, isso permite dar mais transparência e evitar o “greenwashing”. As informações ficam disponíveis online em uma plataforma que pode ser acessada tanto pelos proprietários da terra, como pelas empresas.

Hoje, a empresa tem uma equipe distribuída pela Europa, Estados Unidos e Brasil, e já possui 70 mil hectares na plataforma, que incluem a conservação e restauração de todos os biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal – com exceção do Pampa.

 

 

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O valor da biodiversidade 

Soluções baseadas na natureza podem mitigar 33% das emissões de carbono e evitar 60% das extinções de espécies da biodiversidade do planeta. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O executivo avalia que a discussão da preservação hoje em dia está muito relacionada ao carbono, mas que a Preservland entende que esta não é a solução.

“Estamos trabalhando comercialmente para que as empresas nos ajudem a conservar florestas e por consequência a manutenção da biodiversidade”.

Segundo ele, há uma grande dificuldade em como se precifica a biodiversidade. Mas Santana ressalta que “já há vários atores internacionais fazendo menção à biodiversidade”, em seus compromissos ambientais.

De acordo com a empresa, soluções baseadas na natureza podem mitigar 33% das emissões de carbono e evitar 60% das extinções de espécies da biodiversidade do planeta.

Santana também chama a atenção para a dificuldade dos proprietários rurais em conseguirem regularizar suas áreas, em especial, o desafio que encontram ao tentarem acessar fontes de financiamento para restauração de florestas.

“Tem que ter um mecanismo, um financiamento para essa regularização. São múltiplos fatores. Linhas de financiamento , por exemplo, são importantes, mas também é necessária a  pressão do Ministério Público na fiscalização”, pontua.

Outro ponto destacado pelo executivo é a importância do Brasil vender melhor a imagem do agro nacional internacionalmente.

“Nos EUA, por exemplo,  você precisa conservar 0% das áreas. Temos que mostrar o quanto o produtor brasileiro é melhor que o de fora. Ainda existe falta de informação sobre isso”, avalia.

Segundo o Código Florestal Brasileiro, nos imóveis rurais localizados na Amazônia Legal, a reserva deve ser de 80% da propriedade nas áreas de florestas; no Cerrado 35%; 20% para os imóveis em áreas de campos gerais. Nas demais regiões do país, independentemente do tipo de vegetação, a área mínima de reserva é de 20%.

 

Redação A Lavoura