Como a logística reversa tem contribuído para a evolução das atividades sustentáveis

O mercado da reciclagem tem, somente no Brasil, um potencial superior a 11 bilhões de reais, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), apenas 2,1% dos resíduos produzidos são reciclados. Diante desse cenário, a logística reversa tem espaço para muitas soluções dentro e fora do país.

Atuando nesse mercado, a Green Mining, startup criada para atuar no segmento de reciclagem e logística reversa, acredita que a evolução tecnológica deve ser uma aliada do meio ambiente, não o contrário. “A tecnologia já é utilizada para proporcionar avanços e eficiência em iniciativas sustentáveis”, destaca o CEO da empresa, Rodrigo Oliveira.

Em entrevista para a Revista A Lavoura, o CEO conta mais sobre as ações e objetivos da empresa. “Temos uma grande responsabilidade nesse sentido de promover ações de reciclagem e reaproveitamento de materiais que diminuam os impactos ambientais, junto com grandes empresas”, afirma.

O CEO da Green Mining, Rodrigo Oliveira. Foto: Divulgação.

 

A empresa faz parte do SNA Startup Hub (SNASH), novo hub de agtechs e edutechs criado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), que reúne startups com foco em soluções para o agronegócio.  Confira a seguir.

A Lavoura: Como nasceu a Green Mining?

Rodrigo Oliveira: A Green Mining foi criada dentro do programa 100+ Accelerator, da Ambev, lançado em 2018, que buscava soluções para melhorar a circularidade de embalagens por meio de conteúdo reciclado. Na época, eu e meus sócios Adriano Ferreira e Leandro Metropolo já atuávamos com software robusto de rastreabilidade com georeferenciamento de resíduos da construção civil. Essa experiência nos credenciou para desenvolver um sistema confiável para logística reversa inteligente de embalagens pós-consumo.  O projeto-piloto foi aprovado e começamos a evoluir nossa tecnologia.

A Lavoura: Quais os objetivos da empresa?

Rodrigo Oliveira: Nosso objetivo é mudar o mundo. Queremos oferecer ao mercado soluções inteligentes e eficientes de logística reversa, respeitando os trabalhadores envolvidos na cadeia e viabilizando que a indústria possa cumprir seu papel na responsabilidade compartilhada. Ou seja, atender e entregar valor de forma plena nos pilares ambiental, social e econômico.

Processo da reciclagem. Foto: Divulgação

A Lavoura: Quais os serviços oferecidos pela startup?

Rodrigo Oliveira: Conseguimos ofertar diversas soluções aos clientes, sendo a primeira o cumprimento verdadeiro da legislação. O artigo 33 da Lei 12.305/2010 impõe a fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes a implantarem a recuperação de embalagens pós-consumo, de forma independente do poder público.  Cumprimos isso de forma fiel e sem o uso de mão de obra explorada, já que contratamos catadores, carroceiros e cooperados, cumprindo as leis CLTs e, naturalmente, garantindo compliance trabalhista a nossos clientes. Uma das principais soluções oferecidas está relacionada ao aumento no volume de materiais reciclados para serem inseridos na cadeia produtiva do próprio cliente. Neste tipo de iniciativa, que chamamos de “Projetos Circulares”, damos apoio, inclusive, aos fabricantes de embalagens para que tenham, cada vez mais, conteúdo reciclado nas embalagens de nossos clientes. Esse compromisso vai muito além de cumprir a legislação, envolve as próprias cadeias produtivas no fomento à economia circular..

A Lavoura: Quais os resultados das ações desenvolvidas pela empresa?

Rodrigo Oliveira: Desde novembro de 2018, coletamos e enviamos para a reciclagem 6.527.799 quilos de embalagens pós-consumo, evitando, assim, a emissão de 1 milhão de quilos de CO2.  Tais valores referem-se às coletas realizadas em bares, restaurantes, condomínios e com os projetos Estação Preço de Fábrica e Protect Paradise. Atualmente, a Green Mining possui ações nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantins, Maranhão, Goiás (Chapada dos Veadeiros), Pernambuco (Fernando de Noronha) e Bahia (Trancoso). Com a rastreabilidade, por meio da tecnologia blockchain, é possível acompanhar no site da empresa, em tempo real, a quantidade total de resíduos coletados e CO2 evitados.

 

Segundo o CEO da empresa (foto), de novembro de 2018 até hoje, a empresa coletou e encaminhou para reciclagem 6.527.799 quilos de embalagens pós-consumo, evitando, assim, a emissão de 1 milhão de quilos de CO2. Foto: Divulgação

A Lavoura: Atualmente, quais os “clientes” da empresa?

Rodrigo Oliveira: Hoje, nosso cliente é a indústria de bens de consumo e a indústria de embalagens que precisam cumprir a regulação de logística reversa – B2B. Mas temos estruturado novos formatos para engajar o consumidor nessa jornada com empresas no ramo da energia, saneamento e fast food.

A Lavoura: Como você avalia o cenário atual e futuro a partir da implementação dessas novas tecnologias para o ciclo produtivo?

Rodrigo Oliveira: Olhando para um futuro em que cada vez mais as empresas terão produtos e embalagens com conteúdo reciclável, as tecnologias serão fundamentais para garantir a eficiência do processo de recuperação desses materiais que estão pulverizados no mercado e precisam ser concentrados para serem levados de volta às unidades de reciclagem de reprocessamento. Então, quanto mais eficiência no processo, mais competitividade as empresas terão nesse mundo voltado para um ESG, que tem na reciclagem a garantia de conteúdos com materiais recicláveis em seus produtos e insumos.

Material prensado para reciclagem. Foto:Divulgação

 

A Lavoura: Fale sobre o Projeto Estação Preço de Fábrica

Rodrigo Oliveira: A Estação Preço de Fábrica surgiu para democratizar o acesso ao valor real do material, seja vidro, papel ou papelão, para qualquer pessoa, principalmente as que dependem da venda dos recicláveis para o seu sustento, como os catadores e carroceiros. Nessa ação, a Green Mining consegue propor valores que são pagos nas usinas de reciclagem. Isso é possível porque a startup otimiza todo o processo: os materiais são vendidos na Estação e encaminhados diretamente para usinas que fazem a reciclagem. Com o suporte das empresas parceiras na operacionalização, é possível entregar o valor da usina para cada quilo de resíduo entregue. Resumindo, em números, o Projeto Estação Preço de Fábrica, lançado em 2021, já beneficiou 1.230 pessoas com a venda de recicláveis, atingiu o total de R$ 1,1 milhão, pago pela compra de embalagens pós-consumo, além de ter recuperado 1,4 milhões de toneladas.

Redação A Lavoura